No dia 27 de Julho teve início a Conferência de Lambeth, um dos quatro instrumentos de unidade da Comunhão Anglicana. Esse evento ocorre em média a cada dez anos e congrega bispos e bispas dos 165 países em que a Comunhão Anglicana se faz presente. É importante ressaltar aqui que as igrejas integram a Comunhão de forma autônoma e fraterna, não sendo obrigadas a permanecer nela por quaisquer motivos.
A Conferência de Lambeth é realizada mediante o convite do Arcebispo de Cantuária, que convida os bispos e bispas e seus respectivos cônjuges. Esta é a primeira edição da Conferência em que bispos e bispas abertamente LGBTQIA+ foram convidados, porém, com exceção de seus cônjuges.
A semana que antecedeu o encontro foi marcada por polêmicas. Quando o site oficial da Conferência disponibilizou o material que guiaria as discussões das reuniões verificou-se que na Chamada referente à Dignidade Humana constava um apelo à reafirmação do conceito de casamento como sendo apenas entre um homem e uma mulher.
Este é um tema delicado, pois em 2003 a Igreja Episcopal dos EUA ordenou o primeiro bispo abertamente homossexual e em relacionamento estável com outro homem da Comunhão Anglicana. A partir daí várias igrejas fizeram protestos ou até mesmo se desligaram da Sé de Cantuária. A proposta de reafirmação do conceito de casamento entre um homem e uma mulher foi vista como uma afronta contra todos os avanços de plena inclusão de pessoas LGBTQIA+ na vida da igreja.
Após protestos e intensas manifestações, inclusive da Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil que reafirmou seu compromisso como igreja afirmativa, a organização da Conferência achou por bem retirar esse ponto conflitante do documento que trataria da Dignidade Humana. Porém, bispos conservadores se recusaram a participar da comunhão eucarística com bispos e bispas progressistas, o que acirrou ainda mais os ânimos das lideranças do anglicanismo global.
O Arcebispo Justin Welby apelou para a unidade da igreja e afirmou que a Lambeth não é o espaço adequado para discutir doutrinas, mas sim um lugar de estreitar os laços de fraternidade e assim os ânimos baixaram e os trabalhos seguiram sem muitas disputas. As igrejas de tendência conservadora continuam reafirmando o conceito de casamento heteronormativo e as igrejas de tendência progressista reafirmaram o seu compromisso evangélico de abraçar todas as pessoas e de incluí-las em todas as áreas da vida da igreja, crendo que a diversidade é um dom de Deus para a Igreja de Cristo.
Guilherme Moura Bejo, seminarista da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
O Inclusão Luterana ressalta a parceria e história de luta conjunta das igrejas Luteranas e Anglicanas em todo o mundo pela dignidade humana, em especial das pessoas LGBTQIA+, nos consideramos herdeiras e herdeiros dessa caminhada rumo à uma igreja que quer revelar mais o Reino de Deus aqui neste mundo.